Solidão Sozinha

Eis aqui eu, tomando meu chocolate quente ostentação com um quiche gostosinho de queijo quando noto que todos ao meu redor estão acompanhados, seja de amigos, filhos, irmãos, namorado, marido e percebo que estou mais sozinha, só eu, meu chocolate quente e meu quiche... 

Olho para meu quiche e meu chocolate quente e sinto aquele vazio gigantesco, aquela vontade de devolver a comida e sair correndo, até porque não era parte da dieta...

Mas ao olhar discretamente e mais atentamente, percebo que o casal na minha frente mal se olha e mal se fala, a mulher come de um jeito muito estranho... Pois bem, a família do meu lado é constituída de dois nenês e duas irmãs que se revezam para cuidar dos bebês, mal podendo conversar...

Na solidão dos meus pensamentos e da minha comida, penso quem está realmente sozinho...E penso: esse casal...já estive nessa situação e essa solidão a dois dói mais do que estar realmente sozinha. Olho para a família e penso: que bonito, porém solidão a quatro dói mais que solidão a um.
Olho para 

meu lanche e mais uma vez penso: quem realmente está sozinho...Eu, sozinha de corpo físico, mas cheia, repleta, completa em mente, tanto que mal consigo ficar calada sozinha. Falo, e falo, o tempo todo, e não me importo muito que me ouçam...ao menos que seja um segredo que me conto...

Essa solidão que percebo em mim, não é solidão, é estado de estar sozinha e em paz. Solidão é estar a dois e estar sozinho, é estar em família e estar sozinho. Sozinha, devorando felizmente meu chocolate quente repleto de chantily, penso: se sozinha estivesse, não seria tão feliz.  Sozinha é um estado passageiro, na sequência, eu estava rodeada de amigos que gostam da minha companhia. Sozinha é uma opção. Solidão é dor, solidão é choro, solidão é não saber quem você é sozinho.

Sozinha eu sou mais eu, sou louca, sou feliz e sou Elis. Sozinha tenho a mim e não me canso de mim.

Elis Regina, 2015.