Nasce de novo
Decidi ir, após a academia, ao banco e a lojinha de costura.
Lógico que sai da academia com a roupa da academia, shortinho e regata.
Até a lojinha de costura tudo tranquilo, como deve ser.
Porém da lojinha pra baixo, foi de ter vergonha. Vergonha alheia, me entendam bem.
Até ir ao banco e voltar para minha casa, escutei, no mínimo, uns quatro "elogios" sobre meu corpo e minhas roupas.
E aos quatro "elogios" respondi: por que você não nasce de novo, criatura horrenda? Lógico que não fiquei aguardando para ter alguma resposta, apenas prossegui o meu caminho.

Não há nada de errado nisso, até porque mulheres também o fazem.
O errado é interferir no direito do outro de se sentir bem, no direito de ir e vir.
Eu sabia, assim que sai da academia, que estava com uma roupa curta, porém era perda de tempo ir até em casa, tomar banho e me trocar quando já estava na metade do caminho.
Eu sabia que poderia atrair alguns olhares. Eu não sabia que ia ficar com vontade de voltar pra casa e me trocar no meio do caminho.

Mas, SERES HUMANOS DESTE MUNDINHO, por que, POR QUE, eu não posso ir até o banco com a roupa que eu bem entender sem ter que escutar "elogios"? Não, eu não me sinto bem à aqueles que acham que a mulher fica extremamente a vontade com isso.
Eu me sinto bem quando a pessoa que tem alguma intimidade comigo, fale isso. Isso não dá direito a qualquer um na rua.
Xinguei sim e se precisar, xingo de novo, e mais alto.
Se ninguém deu educação a esse povo, não sou eu, QUE NÃO FIZ NADA DE ERRADO, que vou me esconder debaixo de mil panos para poder ir até o banco - que não era mais de 6 quadras da minha casa.

Posso não ser forte o suficiente para abater algum desses palermas, mas tenho voz e alguém, talvez, algum dia, me escute e faça juz ao que digo.
Elis Regina Indignada, 2016.
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