Não é que eu seja assim...
Não amável, não querível.
Não é bem assim.
Eu só me resguardo, me protejo na tentativa, assim, não de não me machucar, mas de não machucar os outros. Eu sou intensa demais e poucos me compreendem. Eu sou veloz demais e poucos me acompanham. Não os julgo incapaz, mas não quero impô-los nada não se sintam capazes de fazer.
Eu erro demais e, praticamente, o tempo todo e muitas vezes não sei nem expressar direito o que sinto, nem amor, nem ódio, nem tristeza, nem alegria... Talvez eu só queria ficar debaixo dessa armadura que arrumei para proteger os outros da monstruosidade que meu real eu possa ser.
Meu monstro, as vezes, é intenso demais. E não se enganem pela face bela, meu monstro é feio, é sugador de alegrias e esperanças alheias, é terrível, é dolorido e é opressor. Meu monstro é ciumento, é orgulhoso e é ressentido. Meu monstro é chorão, é bobo, é atrapalhado. Meu monstro é eu e eu sou meu monstro. E só podermos sermos nós em nossa solidão.
Elis Regina, 2016.
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